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As flores do cemitério

Nos dias que antecedem o dia de finados e na data propriamente dita, 2 de novembro, os túmulos dos cemitérios ficam floridos, enfeitados com flores dos mais diversos matizes e variedades. Respeito este comportamento. Afinal, nem todos têm o entendimento que lá, onde depositaram o morto, nada mais há para ver, para visitar, para ornar. O cadáver apodrece, decompõe-se e vira pó. No túmulo há tanto daquele familiar quanto num par de chinelos do falecido: nada! Alguns dizem que vão ao cemitério para homenagear os entes queridos que já partiram. Respeito, mas discordo. Por que teria isso de ser feito no cemitério? Nada mais há deles ali. Muito melhor é fazer uma oração em casa, olhar fotografias, lembrar dos bons momentos, do convívio prazeroso. A morte não existe. Morre o corpo de carne, mas a pessoa, a sua consciência, o espírito continua a viver. Sabemos também que, quando choramos a sua ausência, chamamos esta consciência, este espírito para perto de nós. Quando vamos ao cemitério e lá nos deixamos conduzir pelo sentimento de dor e saudade de algum familiar, muitas vezes o atraímos para aquele lugar e fazemo-lo sofrer também. Não é desconhecido de que nossos sentimentos com relação aos que partiram, tanto de alegria como de pesar, são captados por eles, afetando-os. Se queremos ajudar amigos ou familiares que já se foram para o mundo espiritual, podemos rezar, podemos pensar neles e enviar-lhes energias benfazejas e positivas. Eles recebem nossas vibrações boas e isto os auxilia muito. Se choramos, se lamentamos sua falta, se cultivamos saudades, estamos emitindo e fazendo chegar até eles nossos sentimentos de dor, entristecendo-os. Querendo lembrá-los, desejando orar por eles, façamo-lo em local harmonizado e equilibrado energeticamente. Em casa ou numa igreja. O cemitério é, definitivamente, o pior lugar para esta prática. Não ir ao cemitério não é nenhum descaso com os nossos mortos; não é falta de amor, não é falta de carinho. Lá é o lugar para onde eles menos gostariam ser atraídos. O corpo físico é algo de que eles, felizmente, já se libertaram. O cemitério é-lhes um lugar inóspito. Apenas espíritos muito involuídos perambulam e purgam ali suas mazelas. Ao invés de encher de flores os cemitérios, melhor é florir nossas casas. Há quem leva um bagageiro de flores ao túmulo, e em sua casa não se vê uma rosa num solitário sobre a mesa. Homenageie seus entes queridos num lugar aprazível. O próprio velório é um ritual desnecessário. As funerárias deveriam possuir uma espécie de capela mortuária climatizada para guardar os cadáveres por 24 horas, sem a presença dos familiares e amigos. Depois alguém poderia encarregar-se de acompanhar o corpo até o jazigo. Não faz sentido os familiares passarem todo este tempo ao lado de um cadáver. Este formato de velório que estou sugerindo, além de poupar parentes e amigos verdadeiros de todo este sofrimento, evitaria a desfaçatez dos falsos amigos. Estes, que em vida sempre se esquivaram de prestar alguma solidariedade quando o colega ou amigo dela necessitava, gostam desfilar a sua hipocrisia perto dos caixões, com soberbos rompantes de amizade, em flagrante dissimulação.

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