Li, recentemente, um artigo que falava da visita que o Pe. Adolfo Nicolas SJ – o Geral dos Provinciais Jesuítas da América Latina – fez à Amazônia, onde visitou comunidades em que trabalham seus confrades. Pois em sua visita a Manaus, o padre superior dos jesuítas, durante uma confraternização com seus pares, perguntou aos missionários: “A casa onde moram é como a casa dos seus vizinhos”? E os circundantes, imagino que despidos de qualquer soberba e um pouco acanhados, responderam: “Não!” Então Pe. Adolfo fez uma segunda pergunta: “Os vizinhos visitam vossa casa como visitam as casas dos outros vizinhos?” E mais uma vez a resposta foi “não!”. O provincial jesuíta fez essas perguntas, pois percebeu que os missionários, embora estivessem ali no nortão do Brasil para realizar um trabalho de evangelização, não estavam, exatamente, seguindo as pegadas de Jesus, como seria de se supor, como seria de se esperar. Sua condição de vida, especialmente a casa onde moravam, os afastava do povo humilde a quem ensinavam o evangelho. Jesus, nos seu tempo, vivia exatamente como o povo. Não habitava suntuoso palácio ou faustosas mansões; não era dado às pompas e ao luxo. Embora fosse um grande líder, um mestre, não buscava privilégios. Morava como todos moravam. Comia o que todos comiam. Vestia-se como se vestiam seus contemporâneos. Foi por isso que o provincial, Pe. Adolfo, perguntou aos jesuítas da Amazônia: “A casa onde vocês moram é como a casa dos outros vizinhos? Os vizinhos visitam vossa casa como visitam as casas dos outros?” Não, não, não! Pe. Adolfo não perguntou se o prefeito, se os juízes do Forum, ou os grandes empresários lhes faziam visitas. Ele perguntou se o povo simples, aqueles que aos domingos iam à igreja rezar, que lhes ouviam as prédicas, se eles os visitavam. Não, eles não os visitavam porque havia grande diferença entre o modus vivendi daquele povo humilde, comparado com a fartura da casa dos padres. As casas habitadas pelo povo eram, em geral, moradias modestas, enquanto a casa em que moravam aqueles jesuítas era pomposa e finamente decorada. Citei este caso porque, de um modo geral, é isso mesmo que vemos por aí. Pastores e cardeais e bispos; a casa do Edir Macedo e os palácios episcopais descombinam com a residência das pessoas simples dos fiéis. Há pouco uma revista de circulação nacional publicou as faraônicas mansões da Igreja Universal, uma delas a residência oficial de Edir Macedo. Mas a casa do Macedo não é muito melhor que a maioria dos palácios episcopais e residências oficiais dos cardeais, que nem de longe lembram o modo como Jesus morava, no seu tempo. Milhões de fiéis, a maioria vivendo na simplicidade, desembolsam sua contribuição dominical para que o patriarca viva no luxo e na opulência. D. Evaristo Arns quando, em 1973, foi nomeado cardeal, vendeu o palácio episcopal que seria a sua residência oficial em S. Paulo. Vendeu o imóvel por cinco milhões de dólares, comprou terrenos e construiu salões comunitários. D. Evaristo deu um valioso exemplo que, infelizmente, não teve seguidores. Que tenham um mínimo de conforto, isso defendo também. Mas não deveriam, tão ostentosamente, viver no luxo e suntuosidade. Não imagino como conseguem pedir o dízimo ou o óbolo dos fiéis, quando levam uma vida tão distante da realidade do seu povo. “Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos: se vos amardes uns aos outros, como eu vos amei” disse o Mestre. O amor de que falou Jesus a seus apóstolos supõe entrega, doação, partilha… e não, do alto de faustos púlpitos, contemplar mãos calejadas depositando sofrida oferta para manter o status pouco cristão dos altos escalões das hierarquias eclesiais. Já é tempo de as igrejas abandonarem hábitos medievais e seguirem mais de perto o exemplo que Jesus deixou a todos. Se for difícil seguir Jesus, sigam ao menos o que fez D. Evaristo Arns. Já é tempo de pastores e pontífices assumirem uma postura mais humilde e viverem mais perto das ovelhas que pastoreiam. “A casa onde vocês moram é como a casa dos seus vizinhos?”
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